“Segurança ou produtividade?”, essa é uma das perguntas mais antigas e mal interpretadas dentro das empresas. Há décadas, gestores acreditam que investir tempo e recursos em segurança compromete o ritmo de produção, enquanto outros defendem que o verdadeiro gargalo está na falta de organização e cultura preventiva.
A verdade é que o conflito entre produtividade e segurança não é inevitável. Ele nasce, quase sempre, da ausência de uma gestão que conecte ambos os objetivos dentro de um mesmo sistema.
De acordo com o Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho (SmartLab), mais de 611 mil acidentes foram registrados no Brasil em 2023 — um número que, além de representar sofrimento humano, se traduz em horas paradas, afastamentos e perda de eficiência operacional. Em setores de risco, como construção civil, logística e energia, cada desvio de procedimento pode custar tanto a integridade física do trabalhador quanto a continuidade produtiva da empresa.
A pergunta, portanto, não é se é possível zerar os desvios, mas como integrar segurança e desempenho de modo que um potencialize o outro.
A falsa dicotomia entre produzir mais e se proteger melhor

Fonte: Canva Pro
Historicamente, segurança e produtividade foram tratadas como forças opostas. Na prática, isso criou uma cultura de compensação: se a meta é alta, reduz-se o tempo de conferência; se há pressão por prazos, adia-se a inspeção do EPI.
Mas essa percepção é enganosa.
A ISO 45001, norma internacional de gestão de saúde e segurança ocupacional, reforça que a produtividade depende da estabilidade do sistema de segurança. Um ambiente previsível, com riscos controlados e procedimentos claros, gera menos interrupções e retrabalho.
Estudos da Fundacentro, vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego, apontam que empresas com programas estruturados de segurança reduzem em média 35% o tempo de parada não planejada. Ou seja: prevenir é também otimizar.
A integração é possível quando a segurança deixa de ser um “departamento” e passa a ser um indicador de eficiência organizacional.
O papel dos EPIs na eficiência operacional
Em muitos casos, o ponto de atrito entre segurança e produtividade está nos próprios Equipamentos de Proteção Individual. Se o EPI é desconfortável, pesado ou limita movimentos, o trabalhador tende a burlar o uso — e o gestor enxerga a segurança como obstáculo.
A solução está na especificação técnica adequada, feita com base em risco real, ergonomia e tecnologia.
Calçados ergonômicos, por exemplo, podem reduzir a fadiga muscular em turnos longos. Modelos disponíveis na linha de botas da Bunzl EPI apresentam solado bidensidade e alta absorção de impacto, alinhados à NR-6, que exige CA válido e desempenho comprovado.
O mesmo raciocínio se aplica à proteção auditiva, onde isoladores eletrônicos modernos permitem redução ativa de ruído sem comprometer a comunicação, e às luvas de precisão, que combinam resistência mecânica e tato sensível.
Esses avanços mostram que segurança e produtividade não se anulam — elas evoluem juntas quando o EPI é bem escolhido e integrado ao processo.
Cultura organizacional
A cultura de segurança é o ponto onde gestão e comportamento se encontram. Segundo a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA), organizações que incentivam a participação dos trabalhadores nos programas de prevenção têm 40% menos desvios e retrabalho. Isso ocorre porque o colaborador deixa de ser mero executor e passa a atuar como parte do sistema de controle.
Mas criar cultura não é apenas promover campanhas. Envolve:
- Treinamento contínuo, adaptado ao contexto real da operação.
- Liderança de exemplo, em que supervisores aplicam as mesmas regras que cobram.
- Feedback imediato, com reconhecimento de boas práticas e correção de falhas em tempo real.
Esses elementos transformam a percepção de segurança de “imposição” em “colaboração”. O trabalhador entende que o EPI e o procedimento são ferramentas de proteção pessoal e coletiva, não burocracia.
Por que os desvios acontecem
Nenhuma norma, por mais detalhada que seja, elimina o fator humano. Os desvios de segurança, pequenas infrações de conduta, negligência ao uso de EPI ou improvisos operacionais, geralmente têm origem em três causas principais: pressão produtiva, falta de percepção de risco e baixa adequação ergonômica dos equipamentos.
Um levantamento da Fundacentro sobre comportamento de risco em ambientes industriais revelou que 67% dos desvios registrados em auditorias internas ocorrem quando o trabalhador acredita estar “acelerando o serviço”. O ganho de tempo é ilusório: acidentes leves resultam em pausas prolongadas, e os graves podem paralisar a produção por dias.
A NR-1, revisada em 2019, reforça a importância da análise de risco e da capacitação continuada como parte da rotina de trabalho. O desafio é transformar isso em cultura operacional, não em mera formalidade documental.
Gestores eficazes tratam o desvio como sintoma de falha sistêmica, e não como culpa individual. Quando um colaborador retira a luva ou o protetor auditivo, é sinal de que o equipamento não foi bem especificado, o treinamento não foi assimilado ou o processo está mal dimensionado.
Tecnologia como aliada da prevenção
A transformação digital vem oferecendo novas formas de monitorar e corrigir desvios em tempo real. O uso de EPIs inteligentes e conectados permite criar um ecossistema de segurança baseado em dados, onde cada equipamento atua como sensor do comportamento humano e das condições do ambiente.
Entre as aplicações práticas, destacam-se:
- Capacetes com sensores de impacto e fadiga, que enviam alertas automáticos ao sistema de gestão de SST.
- Calçados com rastreabilidade RFID, como os modelos disponíveis na Bunzl EPI, que registram o tempo de uso e ajudam a programar substituições preventivas.
- Detectores pessoais de gases integrados a plataformas de IoT, capazes de identificar vazamentos antes que causem intoxicações.
Essas soluções atendem a requisitos da ISO 45001 e de normas técnicas da ABNT NBR ISO 31000, voltadas à gestão de riscos corporativos. Mais do que um modismo, a digitalização da segurança cria trilhas de evidência: relatórios automáticos, histórico de manutenção e métricas de conformidade que apoiam auditorias internas e certificações.
Indicadores e métricas
Zerar desvios não significa eliminar totalmente os riscos, mas manter controle previsível sobre eles. Para isso, a empresa precisa medir não apenas acidentes, e sim comportamentos preventivos.
Entre os indicadores mais utilizados estão:
- Taxa de frequência e gravidade (TF e TG): quantificam acidentes, mas sozinhas não revelam causas.
- Indicadores proativos: como número de inspeções realizadas, treinamentos concluídos e relatórios de quase-acidente.
- Tempo médio de reação a alertas: importante para avaliar se o sistema de resposta está funcionando.
- Adesão ao uso de EPIs: monitorada por sensores ou registros de supervisão.
Essas métricas, recomendadas pela Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA), ajudam a equilibrar eficiência e prevenção sem comprometer produtividade. O foco deixa de ser “cumprir metas de segurança” e passa a ser operar com previsibilidade.
Cases de sucesso
Empresas de mineração e logística que adotaram programas de segurança comportamental com apoio tecnológico registraram reduções expressivas nos desvios.
Um estudo conduzido pela Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais (ABHO) em 2023 mostrou que corporações que integraram EPIs inteligentes e programas de feedback rápido reduziram em até 42% as ocorrências de não conformidade operacional em 12 meses.
Esses programas combinam:
- Monitoramento digital de EPI e EPC,
- Treinamentos gamificados, que tornam o aprendizado mais intuitivo,
- Feedback instantâneo, onde líderes reconhecem boas práticas em tempo real.
O impacto é direto: menos acidentes, maior produtividade e melhoria do clima organizacional.
Cultura de corresponsabilidade
Nenhum sistema tecnológico é eficaz sem pessoas engajadas. A cultura de corresponsabilidade é o estágio mais avançado da maturidade em segurança, quando cada colaborador entende que proteger-se é proteger o coletivo.
Para isso, é essencial que o discurso da liderança seja coerente com a prática: nenhum prazo pode valer mais do que a integridade física de alguém.
O papel da comunicação também é estratégico. Linguagem simples, alertas visuais e feedback imediato transformam normas em ações reais. Quando o trabalhador entende o motivo por trás da regra, o desvio deixa de ser uma opção.
Considerações finais
Zerar desvios é um objetivo ambicioso, mas possível quando a empresa adota uma visão sistêmica. Segurança não é obstáculo à produtividade, é sua base.
Organizações que integram gestão de risco, tecnologia e cultura preventiva colhem ganhos de eficiência, reputação e clima organizacional.
A Bunzl EPI oferece mais do que produtos certificados: fornece suporte técnico especializado para definir, implementar e manter soluções de proteção adequadas ao risco real de cada operação. Isso inclui análise de normas, seleção ergonômica e treinamento para uso correto, garantindo que cada investimento em segurança também seja um investimento em desempenho.