Em muitas empresas, a segurança do trabalho ainda é resumida a uma lista de equipamentos: capacete, luvas, botas, óculos, protetor auricular.
A lógica é simples: se o colaborador está usando o EPI, então está protegido.
Mas na prática, essa visão limitada cria uma falsa sensação de segurança. O EPI é a última barreira de proteção, e jamais deve ser tratado como a primeira. Antes dele, existe uma sequência de medidas que passam por planejamento, treinamento, ergonomia e cultura organizacional.
De acordo com o Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho da SmartLab, o Brasil registra, em média, 1 acidente de trabalho a cada 49 segundos. A maioria ocorre não por falta de EPI, mas por condutas inseguras, improvisos e falhas de gestão. O desafio, portanto, não é apenas fornecer o equipamento, mas criar um ecossistema em que a segurança seja um valor e não uma obrigação.
EPI não substitui gestão de risco

Fonte: Canva Pro
O uso do EPI é obrigatório pela NR-6, que estabelece a necessidade de Certificado de Aprovação (CA) e o dever do empregador em fornecer, treinar e fiscalizar o uso correto.
No entanto, as próprias normas reconhecem que o EPI deve ser o último recurso, depois de esgotadas as medidas de controle coletivo e administrativas.
A NR-9, que trata do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), é clara ao priorizar o controle na fonte e no meio antes da proteção individual. Isso significa eliminar ou isolar o risco sempre que possível, e só então usar EPI como complemento.
Quando a gestão se apoia exclusivamente no EPI, ela transfere a responsabilidade para o trabalhador e ignora a causa raiz dos acidentes. Um protetor auricular não resolve o ruído de uma máquina desregulada; uma luva não compensa a falta de manutenção; uma bota antiderrapante não corrige um piso escorregadio.
A segurança eficaz depende de análise de risco estruturada, como preconiza a ISO 45001, que exige envolvimento de todas as partes interessadas, da liderança à linha de frente.
A cultura como fator determinante
Segundo estudos da Fundacentro, 90% dos acidentes graves têm origem em falhas de comportamento, e não em falta de equipamento. Isso ocorre porque segurança não é apenas um processo técnico, mas um comportamento aprendido e reforçado diariamente.
Cultura de segurança é o conjunto de valores, percepções e atitudes que determinam como as pessoas se comportam diante do risco.
As empresas que alcançam maturidade em segurança têm alguns traços em comum:
- Liderança ativa: os gestores demonstram comportamento seguro e cobram coerência da equipe.
- Comunicação transparente: o trabalhador sente-se à vontade para relatar falhas sem medo de punição.
- Treinamento contínuo: reciclagens frequentes reforçam hábitos e não apenas normas.
- Feedback imediato: o reconhecimento de boas práticas é tão importante quanto a correção de falhas.
Esses elementos criam uma cultura de corresponsabilidade, onde cada colaborador entende que proteger-se é proteger o coletivo.
Um bom exemplo é o uso de sistemas de monitoramento de EPI conectados, como calçados com sensores de desgaste e rastreabilidade por RFID, já disponíveis na Bunzl EPI. Eles não apenas alertam sobre a necessidade de substituição, mas ajudam a identificar padrões de uso inadequado.
Quando o EPI vira símbolo, não solução
Em algumas organizações, o EPI se torna mais um símbolo de cumprimento burocrático do que uma ferramenta de proteção real. Distribuir kits completos de equipamentos sem gestão de uso, inspeção ou compatibilidade entre peças é o mesmo que entregar capacetes para um time de futebol e achar que estão prontos para jogar.
A NR-1 deixa claro que cabe ao empregador adotar medidas para garantir condições seguras de trabalho, e não apenas repassar o EPI. Isso inclui o dever de treinar, supervisionar e adaptar os processos conforme a evolução tecnológica.
Em outras palavras, o EPI é parte de uma engrenagem maior, e só cumpre sua função quando o ambiente e o comportamento estão igualmente alinhados.
Como medir a maturidade cultural em segurança
A cultura de segurança não se muda com uma palestra ou uma nova política, ela é mensurável, gradual e comportamental. Empresas maduras entendem que segurança é um indicador de gestão e passam a acompanhá-la com a mesma seriedade que monitoram produtividade ou qualidade.
Modelos como o Cultural Maturity Model, adaptado pela Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA), propõem cinco estágios: do reativo ao interdependente. No primeiro, a empresa só age após o acidente; no último, todos se envolvem preventivamente.
Essa avaliação pode ser feita por meio de diagnósticos internos que cruzam dados objetivos (acidentes, auditorias, uso de EPI) e subjetivos (percepção de risco, engajamento, comunicação).
Ferramentas de gestão de segurança integradas à ISO 45001 também ajudam a medir esse nível de maturidade, estabelecendo métricas como:
- Frequência de reuniões de segurança.
- Índice de adesão aos EPIs.
- Taxa de quase-acidentes reportados.
- Nível de participação da liderança em treinamentos.
Esses indicadores mostram se a cultura é viva ou apenas protocolar. Quando há subnotificação, punição excessiva ou ausência de diálogo, o ambiente é reativo; quando há engajamento e melhoria contínua, a cultura se torna preventiva e sustentável.
O papel da tecnologia e dos feedbacks contínuos
A tecnologia vem transformando a forma como as empresas mantêm a segurança como hábito diário.
Soluções digitais e EPIs conectados permitem que as equipes de Segurança do Trabalho acompanhem, em tempo real, o uso correto dos equipamentos, a frequência de inspeções e até sinais de fadiga dos colaboradores.
Por exemplo, botas com sensores de impacto e rastreabilidade RFID, disponíveis na Bunzl EPI, enviam dados sobre desgaste do solado e podem indicar a hora da substituição antes que a aderência se perca. O mesmo vale para detectores de gases pessoais com conectividade IoT, que alertam sobre ambientes contaminados e reduzem o risco de exposição prolongada.
Mas tecnologia sozinha não resolve. É o feedback constante que transforma dados em cultura. Segundo um estudo conduzido pela Fundacentro, em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego, programas que adotaram ciclos curtos de feedback — orientações e reconhecimentos semanais — tiveram redução de 38% em desvios de conduta em 12 meses.
Isso ocorre porque o comportamento humano é moldado pela repetição e pelo reforço positivo. Quando o colaborador entende que segurança é uma competência valorizada, ele passa a incorporá-la como parte de sua identidade profissional.
Exemplos práticos
Diversas empresas brasileiras vêm demonstrando que investir em cultura de segurança é investir em performance.
Um caso documentado pela Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais (ABHO) mostrou que, em uma indústria petroquímica do Paraná, a implementação de um programa de cultura comportamental reduziu em 52% os quase-acidentes no primeiro ano. O segredo foi simples: treinar líderes para dar feedbacks rápidos e tratar erros como oportunidades de aprendizado, não punições.
Outro exemplo é o de uma mineradora nacional que adotou EPI inteligentes combinados com coaching de segurança. O monitoramento de uso das botas e capacetes conectados identificou padrões de negligência em certas áreas, permitindo intervenções direcionadas. O resultado foi uma queda de 30% no índice de afastamentos em menos de seis meses.
Esses resultados reforçam que segurança não é custo, e sim indicador de eficiência operacional e reputacional. Empresas que cultivam essa mentalidade passam a atrair talentos e clientes que valorizam responsabilidade corporativa, além de estarem mais preparadas para auditorias e certificações internacionais.
Liderança e exemplo
De nada adianta investir em EPIs de alta tecnologia se a liderança não os utiliza ou se o discurso não condiz com a prática.
O exemplo visível da gestão é o maior agente de mudança cultural. Supervisores que vestem o EPI corretamente, participam dos diálogos diários de segurança e valorizam as boas práticas comunicam, de forma silenciosa, que segurança é prioridade.
A NR-1 estabelece que cabe ao empregador garantir condições seguras de trabalho, o que inclui formar líderes capazes de conduzir e reforçar comportamentos preventivos. Quando isso acontece, o uso do EPI deixa de ser uma obrigação imposta e se torna consequência natural de uma mentalidade coletiva madura.
Considerações finais
A cultura de segurança não nasce de normas ou equipamentos, mas de consistência, coerência e cuidado genuíno com as pessoas. O EPI é indispensável, mas ele só cumpre seu papel quando vem acompanhado de processos bem planejados, treinamentos eficazes e uma gestão que inspire confiança.
A verdadeira transformação acontece quando o trabalhador entende o “porquê” antes do “como”.
Quando a empresa cria espaço para diálogo, fornece tecnologia adequada e reconhece o comportamento seguro, o uso do EPI deixa de ser um gesto obrigatório e se torna um ato de consciência profissional.
A Bunzl EPI apoia empresas que desejam alcançar esse nível de maturidade. Com consultoria técnica especializada, soluções ergonômicas e tecnologias integradas, ajuda a transformar o conceito de segurança em prática sustentável e mensurável.