Avaliação ergonômica de EPIs: conforto é segurança?

Durante muito tempo, o conforto dos Equipamentos de Proteção Individual foi tratado como um detalhe estético. Hoje, sabemos que ele é determinante para a segurança real do trabalhador.

Luvas que limitam o tato, capacetes que pressionam a nuca ou botas pesadas que causam fadiga reduzem a produtividade e aumentam a probabilidade de erro, justamente o que as normas tentam evitar.

A Fundacentro já aponta, em estudos sobre ergonomia aplicada à segurança, que desconforto físico é um dos fatores que mais contribuem para a não adesão ao uso de EPI. Ou seja, quanto mais incômodo for o equipamento, maior a chance de o colaborador deixar de usá-lo corretamente.

A questão, então, não é apenas se o EPI protege, mas se ele permite que a pessoa trabalhe bem enquanto se protege.

O que dizem as normas sobre conforto e ergonomia

A NR-17 é a principal referência brasileira para ergonomia.
Ela determina que o ambiente, as ferramentas e os equipamentos de trabalho devem se adaptar às características psicofisiológicas do trabalhador.
Isso inclui os EPIs, mesmo que a norma não os mencione diretamente.

A NR-6 complementa: cada EPI deve ter Certificado de Aprovação (CA) emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego, comprovando que foi testado quanto à segurança, conforto e durabilidade.

No plano internacional, a ISO 26800:2011 e a ISO 11226:2019 reforçam que a ergonomia não é apenas uma questão de conforto, mas de prevenção de distúrbios musculoesqueléticos e de aumento de desempenho cognitivo.
Esses padrões servem de referência para o desenvolvimento de EPIs que reduzem esforço físico e aumentam a precisão de movimentos.

Ergonomia como fator de adesão e desempenho

Estudos recentes publicados na revista Applied Ergonomics (Elsevier) indicam que o desconforto é responsável por até 40 % das falhas de uso de EPI.
Isso significa que investir em ergonomia não é luxo: é estratégia de prevenção.

Um exemplo prático é o das botas de segurança, amplamente usadas em setores industriais e de logística. Modelos ergonômicos, como as botas de microfibra técnica com solado bidensidade da Bunzl EPI, reduzem a fadiga muscular em longas jornadas e garantem estabilidade, especialmente em pisos escorregadios.

Esse tipo de calçado equilibra absorção de impacto, aderência e leveza, fatores que interferem diretamente na postura e no ritmo de trabalho.

Outro caso é o dos protetores auditivos, em que a compressão excessiva no canal auditivo pode causar dor e levar à recusa do uso. Por isso, a avaliação ergonômica deve considerar peso, material, pressão e formato de vedação, não apenas a atenuação sonora (NRRsf).

A ergonomia também se estende aos capacetes e cintos de segurança, nos quais o equilíbrio entre proteção e mobilidade define a eficácia do equipamento. Um capacete desconfortável faz o trabalhador ajustar incorretamente as tiras ou até removê-lo durante o turno, anulando a proteção.

Métodos para avaliar o conforto em EPIs

Avaliação ergonômica de EPIs conforto é segurança

Fonte: Canva Pro

Avaliar ergonomia não é subjetivo. Existem métodos técnicos reconhecidos para medir conforto e esforço físico, como:

  • Escalas de Borg e de Corlett & Bishop: que quantificam o nível de desconforto muscular durante a atividade.
  • Análise de Postura (OWAS e RULA): usadas para observar movimentos e identificar pontos de carga excessiva.
  • Termografia e sensores de pressão: aplicados em calçados e luvas para mapear áreas de atrito.

Esses instrumentos permitem correlacionar dados fisiológicos e biomecânicos com o design do EPI, facilitando ajustes de tamanho, ventilação, densidade do material e formato das alças ou tiras.

A aplicação prática desses métodos torna possível escolher EPIs mais adequados ao tipo de tarefa, porte físico do trabalhador e tempo de exposição ao risco.

O impacto financeiro de escolher certo

Em segurança do trabalho, o investimento em ergonomia costuma ser visto como despesa adicional. Mas a experiência de empresas que aplicam programas ergonômicos estruturados mostra o contrário.

Um levantamento da Fundacentro revelou que organizações que adotaram critérios ergonômicos na seleção de EPIs tiveram redução média de 32% nos afastamentos relacionados a dores lombares, fadiga e desconforto térmico.

Esses resultados são explicados por um princípio simples: o trabalhador confortável se protege melhor, trabalha mais e erra menos.

O ganho não está apenas na diminuição dos acidentes, mas também na produtividade, já que a fadiga acumulada compromete reflexos, força e atenção.

Além disso, um EPI ergonômico dura mais. Materiais respiráveis, fechos ajustáveis e solados com densidades específicas reduzem o desgaste por atrito e mantêm o conforto ao longo do tempo.

Assim, o custo de aquisição é compensado pela longevidade e pela adesão consistente ao uso, dois fatores críticos em auditorias de SST.

Integração com a ISO 45001

A ISO 45001:2018, referência internacional em gestão de saúde e segurança ocupacional, trata a ergonomia como um indicador de desempenho preventivo.
Ela prevê que o sistema de gestão da empresa avalie continuamente condições de trabalho, fadiga, conforto térmico e biomecânica.

No contexto dos EPIs, isso significa que a escolha do equipamento precisa ser orientada por dados, e não apenas por custo unitário ou exigência legal.
O ideal é que cada aquisição passe por uma análise ergonômica que considere:

  • Tempo de uso diário e esforço exigido.
  • Clima e temperatura do ambiente.
  • Perfil antropométrico dos colaboradores.
  • Interação entre diferentes EPIs (capacete, óculos, máscara, etc.).

Essa avaliação gera um mapeamento ergonômico que pode ser integrado ao Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), conforme previsto na NR-1.
Com isso, o conforto deixa de ser algo subjetivo e passa a ser um dado técnico de segurança ocupacional.

Boas práticas para avaliação ergonômica de EPIs

A escolha de EPIs ergonômicos requer uma abordagem multidisciplinar. Envolve engenheiros de segurança, ergonomistas e gestores de RH, garantindo que a decisão não se limite à especificação técnica do produto.

Entre as boas práticas recomendadas:

  • Testes de campo antes da compra: sempre que possível, permitir que os trabalhadores experimentem diferentes modelos de EPI antes da adoção definitiva.
  • Treinamento de uso correto: um EPI confortável pode se tornar desconfortável se ajustado de forma inadequada.
  • Monitoramento contínuo: reavaliar o conforto após períodos de uso, com feedback dos usuários e medições objetivas.
  • Consulta ao CA e à ficha técnica: confirmar a validade e os parâmetros de ensaio de conforto térmico e resistência mecânica no Certificado de Aprovação.

Essas práticas garantem que a ergonomia seja mantida não só no momento da compra, mas durante todo o ciclo de vida do EPI.

Cultura organizacional e comportamento seguro

A ergonomia é também um elemento cultural. Quando a empresa demonstra preocupação real com o bem-estar físico dos trabalhadores, a percepção de valor muda.
Segundo pesquisa publicada pela Universidade de São Paulo (USP), programas de ergonomia aplicados a EPIs aumentam em até 50% a adesão ao uso correto e reduzem significativamente a resistência a mudanças.

Mais do que uma exigência normativa, o conforto é uma forma de respeito. Ele comunica que a empresa entende que segurança não é apenas proteção, mas qualidade de vida dentro do trabalho.

Esse tipo de cultura não se impõe; ele se constrói com diálogo, capacitação e escuta ativa. Quando os próprios trabalhadores participam da avaliação dos EPIs, o processo de melhoria contínua se torna natural e autossustentável.

Considerações finais

A avaliação ergonômica de EPIs é um dos caminhos mais eficazes para reduzir acidentes e aumentar a eficiência operacional.

Ela transforma o conforto em métrica de segurança e alinha as exigências da NR-17 e da ISO 45001 à realidade das equipes em campo.

No mercado atual, existem opções que unem leveza, durabilidade e desempenho técnico.

A Bunzl EPI oferece um portfólio completo de equipamentos certificados e consultoria técnica especializada para apoiar empresas na escolha de EPIs ergonômicos, considerando postura, mobilidade e adequação ao ambiente de trabalho.

Segurança e conforto não são opostos, são complementares. E entender isso é o primeiro passo para transformar a ergonomia em uma aliada da produtividade e da saúde ocupacional.