Por que o CA não é suficiente: como avaliar a real eficácia de um EPI

O Certificado de Aprovação (CA) é o principal documento que autoriza a comercialização e o uso de Equipamentos de Proteção Individual no Brasil.
Emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego, ele comprova que o produto passou por ensaios laboratoriais e atende aos requisitos mínimos de segurança previstos na NR-6. Mas a realidade do campo vai além da teoria.

Um EPI pode ser certificado e ainda assim não proteger adequadamente se for mal ajustado, usado em condições diferentes das testadas ou incompatível com outros equipamentos. É por isso que o CA é necessário, mas não suficiente para garantir a eficácia real da proteção.

O que o CA realmente assegura

O Certificado de Aprovação atesta que o EPI cumpre padrões mínimos de desempenho, definidos em normas técnicas nacionais ou internacionais reconhecidas pela ABNT e pela Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios (RBLE).

Ele indica que o produto foi ensaiado, aprovado e que suas características técnicas são compatíveis com a finalidade declarada pelo fabricante.

O problema é que esses testes são realizados em condições laboratoriais controladas, diferentes da realidade de um canteiro de obras, de uma indústria metalúrgica ou de uma linha de produção sob alta temperatura.

No ambiente real, variáveis como umidade, poeira, desgaste, compatibilidade entre EPIs e comportamento humano interferem diretamente na eficiência do equipamento.

Ou seja, o CA garante a conformidade legal, mas não a eficácia prática.

Quando o EPI aprovado falha

Por que o CA não é suficiente como avaliar a real eficácia de um EPI

Fonte: Canva Pro

Mesmo com certificação, há situações em que o EPI não cumpre seu papel. Isso ocorre por fatores que extrapolam o laboratório:

  • Uso incorreto ou ajuste inadequado: um respirador certificado pode perder eficiência se não for ajustado corretamente ao rosto.
  • Incompatibilidade entre equipamentos: óculos de proteção que não se encaixam bem sob capacetes ou protetores auriculares que interferem na vedação de máscaras.
  • Desgaste por tempo de uso: materiais degradados por calor, radiação ou umidade perdem capacidade de proteção antes do prazo estimado.
  • Ausência de manutenção: luvas condutivas, cintos ou talabartes exigem inspeções regulares para garantir integridade estrutural.

Esses exemplos mostram que a eficácia depende tanto do produto quanto do contexto e da gestão do uso.

A importância dos testes de campo e da avaliação ergonômica

Avaliar a eficácia de um EPI significa testar como ele se comporta no ambiente real, com o trabalhador que vai utilizá-lo. A Fundacentro, em publicações sobre ergonomia aplicada à segurança, recomenda que as empresas realizem testes de campo antes da adoção definitiva de novos equipamentos. Isso inclui observar conforto, ajuste, compatibilidade com outras peças e resposta às condições de temperatura, ruído e vibração.

Essa abordagem está alinhada à NR-17, que trata da adaptação das condições de trabalho às características do trabalhador.

Um EPI que causa desconforto, limita movimentos ou compromete a ventilação pode gerar fadiga e aumentar o risco de acidente, ainda que esteja perfeitamente certificado.

A ergonomia, portanto, é parte fundamental da avaliação de eficácia.
Ela garante que o EPI proteja sem reduzir o desempenho humano, equilibrando segurança e funcionalidade.

Casos práticos e impacto na segurança

Estudos realizados em setores industriais mostram que mais de 60% dos incidentes envolvendo EPIs ocorrem por falhas de uso e inadequação ao ambiente, e não por defeitos de fabricação. Isso reforça a necessidade de combinar certificação com observação prática e treinamento contínuo.

No catálogo da Bunzl EPI, por exemplo, os equipamentos são selecionados não apenas pelo CA, mas também por critérios de conforto, durabilidade e compatibilidade.
O resultado é uma linha de EPIs que equilibra segurança técnica e usabilidade, uma combinação que realmente reduz riscos.

 

Como medir a eficácia real de um EPI

Garantir que um EPI funciona de fato envolve ir além do documento de certificação. É preciso medir seu desempenho no contexto de uso, com métodos objetivos e observação contínua. Empresas mais maduras em segurança ocupacional adotam uma abordagem em três etapas:

  • Avaliação técnica: verificar se o produto possui CA válido e se está de acordo com a NR-6 e as normas aplicáveis da ABNT, como a NBR ISO 20345 (calçados de segurança) ou a NBR 13698 (capacetes).
  • Avaliação ergonômica: observar conforto, peso, ventilação, ajuste e interferência com outros equipamentos, conforme critérios da NR-17.
  • Teste de campo: registrar o desempenho real ao longo do tempo, sob diferentes condições ambientais e operacionais.

Essa última etapa é a mais reveladora. Um respirador pode funcionar bem em testes de laboratório, mas falhar em áreas de alta umidade. Uma luva pode resistir ao corte no ensaio técnico, mas perder aderência quando exposta a óleo ou graxa.
Por isso, o acompanhamento em campo deve integrar o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) previsto na NR-1, garantindo que a proteção seja validada de forma contínua.

Indicadores práticos de eficácia

Além de observar o desgaste físico do equipamento, é importante mensurar indicadores de eficácia, dados que comprovam se o EPI está cumprindo seu papel preventivo.
Alguns exemplos incluem:

  • Taxa de incidentes relacionados ao risco específico (antes e depois da implantação do EPI).
  • Relatórios de conforto e aderência dos trabalhadores.
  • Frequência de substituição e manutenção, que revelam durabilidade real.
  • Compatibilidade operacional, ou seja, se o equipamento interfere ou não nas tarefas rotineiras.

Esses indicadores ajudam a justificar tecnicamente decisões de compra e atualização do inventário de EPIs. Empresas que registram e analisam esses dados constroem uma base de evidências que fortalece tanto a segurança quanto a conformidade legal.

Erros comuns ao avaliar a eficácia

Mesmo em organizações com boa estrutura de SST, alguns equívocos ainda são frequentes:

  • Confiar apenas no CA: desconsiderando a necessidade de ensaios práticos e validação contínua.
  • Escolher o EPI mais barato: sem considerar o custo do ciclo de vida e o conforto ergonômico.
  • Ignorar feedbacks dos usuários: o desconforto é um sinal precoce de inadequação.
  • Não revisar o inventário de EPIs: produtos vencidos ou desgastados perdem eficácia, mesmo que ainda tenham CA ativo.

Esses erros custam caro. Além de aumentar o risco de acidentes, comprometem a credibilidade da gestão de segurança e podem gerar responsabilidade civil e penal em caso de dano ao trabalhador.

Treinamento e cultura de uso consciente

A eficácia do EPI também depende da forma como ele é utilizado.
O artigo 166 da CLT obriga o empregador a fornecer e fiscalizar o uso adequado dos equipamentos, mas isso só é possível quando existe cultura de segurança consolidada.

Treinamentos contínuos, demonstrações práticas e campanhas de engajamento são essenciais para que o trabalhador compreenda o motivo de cada medida preventiva.
Segundo levantamento da Fundacentro, empresas que incorporam ergonomia e treinamento ao processo de escolha de EPIs têm redução média de 40% nas falhas de uso. Ou seja, o melhor equipamento não é o mais caro nem o mais sofisticado, é o que o trabalhador realmente usa de forma correta e constante.

Do CA à eficiência operacional

A discussão sobre a suficiência do CA não é sobre descredibilizar a certificação, mas sobre ir além dela.

O documento é um ponto de partida essencial, mas a segurança só se concretiza quando há testes, acompanhamento e análise de desempenho real.

A Bunzl EPI atua justamente nesse ponto de convergência entre conformidade e eficiência.
Com presença global e estrutura técnica de avaliação, a empresa oferece EPIs certificados, ergonômicos e testados em campo, além de consultoria especializada para orientar clientes na seleção mais adequada para cada tipo de risco.

Essa abordagem transforma a compra de EPI em uma decisão estratégica, baseada em dados, conforto e desempenho e não apenas em papéis.