NR-1 e o papel dos EPIs em treinamentos obrigatórios: o que mudou

A NR-1 é a norma que estrutura todo o sistema de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) no Brasil. É ela que define quem é responsável por cada etapa da prevenção, do fornecimento dos EPIs ao treinamento do trabalhador.

Com as últimas atualizações, a norma passou a ter um foco mais amplo. Além dos riscos físicos e químicos, passou a incluir fatores psicossociais e reforçou o papel do treinamento como parte essencial do gerenciamento de riscos.

Isso significa que não basta mais entregar o EPI: o empregador precisa garantir que o trabalhador saiba como usar, conservar e reconhecer seus limites. O treinamento se tornou uma ferramenta de segurança, não apenas um protocolo administrativo.

Essas mudanças impactam diretamente a rotina de quem atua em áreas industriais, de construção, saneamento e energia, setores em que a Bunzl EPI fornece soluções completas de proteção e suporte técnico.

O que a NR-1 determina sobre treinamentos e EPIs

NR-1 e o papel dos EPIs em treinamentos obrigatórios

Fonte: Canva Pro

A NR-1 atribui ao empregador a responsabilidade de informar, capacitar e supervisionar seus trabalhadores quanto aos riscos da atividade e às formas de controle. Mesmo que não especifique todos os conteúdos de cada curso, a norma estabelece que todo profissional deve ser capacitado antes de iniciar suas funções, após mudanças de função e sempre que houver alteração nos processos ou nos riscos.

  • O treinamento obrigatório precisa abordar:
  • O uso correto dos EPIs e sua manutenção preventiva.
  • O reconhecimento dos riscos ocupacionais ligados à função.
  • Os procedimentos de emergência e comunicação de risco.

Além disso, a norma exige registro documental detalhado de cada capacitação, incluindo datas, instrutores e listas de presença, o que serve como comprovação em auditorias.
O Ministério do Trabalho e Emprego reforça que o registro é obrigatório e deve estar disponível durante inspeções.

O que mudou na nova redação da NR-1

A revisão mais recente da norma, válida até 2026, trouxe mudanças significativas no formato e no alcance dos treinamentos.

1. Inclusão de riscos psicossociais

A atualização exige que as empresas considerem riscos psicossociais, como estresse, assédio e sobrecarga de jornada dentro do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Isso amplia a função dos treinamentos, que passam a envolver saúde mental, ergonomia e percepção de risco, e não apenas o uso físico dos equipamentos.

2. Treinamento integrado ao gerenciamento de riscos

Os treinamentos agora fazem parte do GRO (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais) e devem estar vinculados ao PGR da empresa. Isso obriga o empregador a alinhar o uso dos EPIs à identificação de perigos e às medidas de controle adotadas.

3. Flexibilidade metodológica com rastreabilidade

A norma passou a permitir treinamentos presenciais, a distância ou híbridos, desde que haja rastreabilidade e avaliação de aprendizagem. Ou seja, não basta exibir um vídeo ou aplicar um teste rápido. É preciso garantir que o colaborador realmente aprendeu e sabe aplicar o que foi ensinado.

Essas mudanças tornam o treinamento mais dinâmico, mas também mais exigente, principalmente para empresas com alta rotatividade. A rastreabilidade é essencial para garantir conformidade e proteger o empregador em caso de fiscalização.

O novo papel dos EPIs dentro dos treinamentos

Durante muito tempo, os EPIs foram tratados como a última camada de defesa o recurso usado quando os controles coletivos não eram suficientes. Agora, com a NR-1 atualizada, eles fazem parte de um sistema integrado de aprendizagem e prevenção.

Isso muda completamente a forma de planejar os treinamentos. O EPI não é mais o ponto final da proteção, e sim um elemento que deve ser ensinado, testado e monitorado.

  • Um colaborador treinado entende quando o EPI é ineficaz e sabe como solicitar substituição.
  • A gestão passa a identificar falhas mais cedo e reduz a chance de desvios de conduta.
  • O registro de treinamentos e inspeções se transforma em evidência documental, essencial para auditorias de Segurança e Saúde no Trabalho.

No catálogo da Bunzl EPI, por exemplo, há modelos de calçados projetados para integração com programas de treinamento técnico, produtos com Certificado de Aprovação (CA) válido e compatíveis com normas internacionais.

Como implementar treinamentos conforme a NR-1

A revisão da NR-1 exige que o treinamento sobre EPIs faça parte de um processo contínuo e verificável. Na prática, isso significa que o conteúdo precisa estar conectado ao Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) e aos demais programas de segurança da empresa, como o PCMSO, previsto na NR-7.

O ciclo de treinamento ideal inclui quatro etapas principais:

  • Planejamento técnico: o empregador identifica os riscos presentes em cada função e define quais EPIs devem ser usados, de acordo com o Certificado de Aprovação (CA) válido.
  • Execução e registro: cada trabalhador deve participar de capacitação presencial ou EaD, com comprovação de frequência e avaliação.
  • Verificação de eficácia: o instrutor ou técnico de segurança precisa confirmar se o trabalhador compreendeu o conteúdo e sabe aplicar o EPI corretamente.
  • Atualização periódica: sempre que houver mudança de processo, de risco ou de equipamento, o treinamento precisa ser renovado.

Essa estrutura permite demonstrar, em auditorias, que a empresa cumpre não apenas a norma, mas também aplica o conhecimento no dia a dia.

Documentação e rastreabilidade

O controle documental é um dos pilares da nova NR-1. Todos os treinamentos devem ter evidência formal, que inclui:

  • Lista de participantes;
  • Data de realização;
  • Carga horária e formato (presencial, EaD ou híbrido);
  • Assinatura do responsável técnico;
  • Conteúdo ministrado.

Essas informações precisam ser guardadas e vinculadas ao registro de entrega e uso dos EPIs. O cruzamento desses dados mostra que o equipamento foi fornecido, que o colaborador foi treinado e que o CA estava válido na data do curso.

Empresas que usam sistemas de rastreabilidade digital, como etiquetas RFID ou QR Code, ganham vantagem. O controle automático vincula o treinamento, o lote do EPI e o colaborador, criando um histórico confiável para inspeções e auditorias da Secretaria de Inspeção do Trabalho.

Boas práticas para integrar EPIs ao aprendizado

A experiência de grandes indústrias e construtoras mostra que o sucesso do treinamento depende menos do formato e mais da qualidade do conteúdo e do exemplo da liderança. Veja algumas boas práticas que ajudam a cumprir a NR-1 com eficiência:

  • Treinar pequenos grupos: equipes menores facilitam a interação e permitem corrigir erros de uso do EPI em tempo real.
  • Usar exemplos práticos: mostrar o EPI sendo ajustado, higienizado e guardado corretamente é mais eficaz do que instruções genéricas.
  • Simular cenários de risco: em áreas como construção ou energia, simulações controladas ajudam o trabalhador a perceber a importância do equipamento.
  • Atualizar o conteúdo periodicamente: a cada nova norma ou mudança de tecnologia, o material precisa ser revisado.

Essas práticas tornam o treinamento mais próximo da realidade operacional eaumentam a adesão dos colaboradores.

Erros que comprometem a conformidade

Mesmo empresas com boas intenções podem falhar na aplicação da norma. Os erros mais comuns incluem:

  • Treinar apenas na admissão, sem reciclagens periódicas;
  • Usar material genérico, sem relação com o risco real da função;
  • Não registrar treinamentos informais, como diálogos de segurança (DDS);
  • Distribuir EPIs sem comprovar instrução adequada.

Essas falhas anulam o valor legal da capacitação e podem resultar em autuações pela fiscalização com base na NR-28.

O impacto da cultura organizacional

A norma deixou claro que segurança é parte da cultura da empresa. A Fundacentro, em estudos sobre comportamento seguro, aponta que mais de 70% dos acidentes têm origem em falhas de percepção ou conduta, não em ausência de EPI.
Por isso, os treinamentos devem enfatizar comportamento e corresponsabilidade, e não apenas a obrigação legal.

Quando o trabalhador entende o porquê das normas, ele passa a agir de forma preventiva, reduzindo desvios e aumentando a confiabilidade operacional. Esse é o objetivo final da NR-1: criar autonomia com base em conhecimento técnico.

Considerações finais

A nova NR-1 reposiciona o treinamento como ferramenta estratégica de segurança. Ele precisa estar integrado ao controle dos EPIs, às evidências documentais e à rotina de cada colaborador.

A norma não trata mais apenas de cumprir requisitos, mas de comprovar eficácia real na prevenção de acidentes.

A Bunzl EPI apoia empresas nessa adaptação com consultoria técnica, programas de capacitação sob medida e produtos certificados com CA atualizado, de calçados e luvas a equipamentos para trabalho em altura.

Com conhecimento, registro e prática, o treinamento deixa de ser obrigação e passa a ser parte do desempenho seguro e sustentável da empresa.